Urgência

Espera sem fim pela cirurgia

Secretaria estima que o procedimento será feito até o fim do primeiro semestre de 2017

Paulo Rossi -

Marcos pode ser definido como tranquilo. Seja na forma como conta suas histórias, seja como olha o horizonte através da janela de sua casa, localizada no Simões Lopes, em Pelotas. A calma se tornou uma necessidade frente à realidade de espera. Há sete anos sem trabalhar devido a um problema de saúde, o estivador Marcos de Aquino Primeira, 53, aguarda há 540 dias por atendimento com um traumatologista através do Sistema Único de Saúde (SUS) para realização de cirurgia. “Não posso me desesperar, entrar em depressão, que aí piora tudo”, diz, enquanto mostra uma série de exames, laudos e papéis acumulados ao longo de um ano e meio.

O acidente aconteceu há 32 anos, quando trabalhava como estivador em um engenho na cidade. Um saco de arroz caiu da esteira sobre seu joelho, estourando ligamentos e dobrando a perna para o lado. O tratamento realizado na época não previu cirurgia, o que anos mais tarde viria a se tornar um problema ao trabalhador. Com a ajuda de muletas, Marcos consegue se locomover com dificuldade dentro de casa. Caminhadas na rua exigem muitas paradas para esticar as pernas quando começa a sentir dor e para descansar os braços. Enquanto conversava com a reportagem, o olhar se mantinha fixo num jardim ao fundo de sua cozinha, de onde vê muitas flores, laranjas e plantas. Os cuidados com o jardim são possíveis graças a ajuda do filho nas horas de folga do trabalho.

No dia 23 de julho de 2015, em consulta com médico traumatologista na Santa Casa de Misericórdia de Pelotas, no receituário constou “artrose severa no joelho esquerdo”. O especialista pediu que Marcos voltasse com uma série de exames necessários à solicitação da cirurgia via SUS. Para agilizar o processo, ele resolveu fazer os exames na rede particular para a consulta de volta, marcada de acontecer oito meses adiante. Com os papéis em mãos, consultou em 9 de março de 2016 e ouviu de um novo médico que não seria possível a cirurgia naquele ano. Em 26 de setembro entregou o encaminhamento à Secretaria Municipal da Saúde (SMS). Numa cópia do documento, ele aponta a anotação da atendente num canto superior do papel: urgente. “Se está escrito urgente, por que a demora? Isso é uma coisa que eu não entendo”, questiona o trabalhador.

Com a demora e a indefinição de seu caso, Marcos permanece à espera. Como não consegue caminhar com postura adequada, aos poucos a complicação se estende para o quadril e a coluna. Até a semana passada ele não havia recebido resposta sobre seu caso.

O que diz a Secretaria Municipal de Saúde
Em contato com a Secretaria Municipal da Saúde, Suelen Arduin, diretora de Gestão Ambulatorial e Hospitalar, informou que o caso está cadastrado no Sistema Aghos com prioridade eletiva. Esta avaliação é realizada por um médico especialista e registrada no sistema, que é estadual, voltado à marcação de cirurgias, exames e outros atendimentos. 

A SMS possui contrato com a Santa Casa de Misericórdia de Pelotas de 14 cirurgias de alta complexidade e 26 cirurgias de média complexidade por mês. Hoje tem cinco pacientes internados que aguardam procedimento cirúrgico com prioridade urgente. Entre os eletivos estão 32 pessoas que aguardam procedimento. De acordo com Suelen, Marcos estaria em uma lista com mais 12 pessoas.

Se existe alguma data para o atendimento do ex-estivador, Suelen explica que há, inicialmente, uma opção prevista com base na fila. Entretanto, essa marcação sofre influência de eventuais urgências e desmarcações.

A diretora estima que o procedimento será feito até o fim do primeiro semestre de 2017. Caso o prazo seja cumprido sem interferências, até lá Marcos terá aguardado mais de 700 dias.

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Anterior

Quimioterapia será responsabilidade da Santa Casa a partir desta sexta

Próximo

Risco de sofrer fraude cresce entre os idosos

Deixe seu comentário